Palestra no dia
24.7.2014 por ocasião de 190 ano da
imigração alemã no Brasil
AMIG, Curitiba
Eckhard
E. Kupfer
Amanhã
será comemorado o dia da imigração alemã para o Brasil. No dia 25 de julho de
1824 um grupo de alemães, oriundo das regiões do Hunsrück, do Schleswig e de Mecklenburg, os
quais segundo o historiador Martin Dreher eram em parte presidiários, se
apresentaram no porto de Hamburgo em abril do mesmo ano, desembarcaram no porto
de Rio Grande, e continuaram a sua longa e cansativa viagem até uma área ainda
totalmente coberta de mato na beira do rio sinos. Teve um motivo clara de
enviar estes imigrantes tão distante da capital Rio de Janeiro: nos dias que
antecediam o 7 de setembro de 1822, após movimentos e pressões subversivas
contra o príncipe Dom Pedro I., o seu governo liderado pelo Ministro José
Bonifácio reuniu-se com a princesa Leopoldina de Habsburgo, esposa de Dom Pedro.
Os dois tomaram a decisão que a pressão de Portugal, exigindo um imediato
retorno do Príncipe para Lisboa, não deveria ser cedido. Restou unicamente a
declarar a independência de Portugal. Uma vez definido pelos responsáveis, um
emissário foi enviado com uma carta para ser entregue ao Príncipe Pedro que
estava visitando a província de São Paulo. Ai houve o famoso grito de Ipiranga.
Quando
a nova administração do império chefiado pelo Ministro José Bonifácio se deu
conta da responsabilidade, reconheceram logo que com a estrutura existente e
principalmente com a quantidade de homens segurando as fronteiras, o pais
correria sérios riscos na sua integridade. Nessa situação apareceu o Major
Jorge Antônio von Schäffer, aventureiro alemão que viajava pelo mundo a serviço
da Rússia e se tornou pessoa de confiança da princesa Leopoldina. O Ministro
deu para ele a tarefa de recrutar na Europa atiradores com contratos de até
seis anos, porem a maioria dos países, ainda se recuperando das batalhas de
Napoleão, proibiram expressamente a contratação de seus cidadãos para este tipo
de serviço. Schäffer sabia disto e ofereceu “ mundos e fundos “ como viagem
paga, um lote de terra, subsidio em dinheiro durante os primeiros 2 anos,
cavalos, bois, ovelhas em proporção de numero de membros da família, cidadania
brasileira, liberdade religiosa e isenção de impostos por dez anos. Não foi
difícil atrair pessoas, principalmente em regiões pobres e distantes dos grandes
centros.
Seguindo
do sonho de receber terra própria e construir uma vida mais promissor do que no
velho continente embarcaram colonos de
vários regiões de língua alemã, para o
Brasil. No dia 25 de julho chegaram 43
pessoas numa Feitoria e numa Estancia
que posteriormente se chamou São Leopoldo. A partir dessa data o fluxo de
chegada de imigrantes de língua alemã não parou mais, pelo menos até 1835. Em toda a província de Rio Grande do
Sul estabeleceram-se pequenas comunidades que abriram as suas picadas e viviam
principalmente da agricultura familiar. Artesões cuidaram do abastecimento das famílias
com ferramentas, instrumentos e utensílios domésticos.
A
partir de 1830 o parlamento pressionou o governo imperial de abdicar os
projetos de colonização pelo modelo da pequena propriedade. Isto não significou
que a imigração parou, porem não foram mais oferecidos os benefícios iniciais.Com
o decreto No 514 de 1848 a responsabilidade foi transferida para as províncias.
A
atividade de propaganda iniciada pelo Major
Schäffer se respaldou nos reinados ou
ducados alemães como Baviera, Palatina,
Baden, Schleswig e Mecklenburg de maneira, que nos primeiros 5 anos chegaram no
Brasil mais de 2000 pessoas.
A
primeira chegada de colonos em São Paulo aconteceu em 1827 em Santos. O grupo
foi enviado do porto para o planalto à comarca de Santo Amaro, onde se encontraram
abandonados por mais de um ano, por uma falta de comunicação entre o governo
imperial e a capitania do estado. Somente após o inicio de uma greve de fome,
as 246 famílias foram assentadas em 1829, um parte permaneceram no extremo sul
da cidade, onde até hoje se encontram descendentes de 25 famílias no subúrbio chamado
Colônia. Outros foram encaminhados para
Itapecerica, principalmente artesoes e famílias que já trouxeram bens próprios .
Um grupo menor chegou em 1829 no município de Rio Negro, que naquela época
pertencia ainda ao Estado de São Paulo. Pelo ponto de vista de hoje, pode ser
considerado o primeiro assentamento de imigrantes alemães no estado de Paraná.
Numa
segunda fase a partir de 1851 iniciaram-se vários movimentos da imigração alemã
para o Brasil: chegaram em Porto Alegre
militares e ativistas do movimento de 1848 que fracassou na tentativa de
modernizar os estados na Alemanha e tiveram que fugir. Estes experientes
soldados e oficiais foram justamente contratados pela sua experiência no campo
de batalha. O império teve que se preparar para os ataques dos Generais
argentinos Oribe e Rosa. Os recém chegados foram chamados
pela
população local: “ Os Brummers” O mais expoente foi Karl von Koseritz,
posteriormente jornalista, editor de jornais e politico em Porto Alegre.
Uma
outra fundação foi a colônia domínio Dona Francisca, que a filha de dom Pedro
I. recebeu como dote por ocasião do seu casamento com o príncipe de Joinville.
O procurador do príncipe, Leonce Aubé negociou com o Senador Hamburguês
Christian Mathias Schröder do Hamburger Kolonialisationsverein von 1849 a venda
de terra para ser loteada e assentada por imigrantes que tiveram condições de
comprar os seus lotes.
Já
no ano de 1846 o farmacêutico Dr. Hermann Otto Blumenau apareceu no vale de
Itajaí, para inspecionar terras que serviam para uma colonização. Este primeira
tentativa não teve muito êxito. Foram poucos alemães que se interessaram pela
proposta do Dr. Blumenau. O Hamburger Kolonialisationsverein perdeu o interesse
e Dr. Blumenau voltou sem apoio de fora uma segunda vez. Finalmente o governo
do estado de Santa Catarina o ajudou na propaganda e o retorno foi
impressionante. Chegaram pessoas até hoje reconhecidos como por exemplo o
agrimensor Emil Odebrecht de Greifswald e o naturalista, Fritz Müller da
Turíngia.
Nas
épocas de 1850 até 1880 chegaram regularmente novos grupos de imigrantes
alemães no Brasil, em media 15.000 por década, se espalhando principalmente no
interior de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, embora que
em 1859 o parlamento de Prússia tinha proclamado o decreto de Heydt, proibindo
o aliciamento de imigração para o Brasil. Essa proibição foi causada pelos
acontecimentos na fazenda de café Ibicaba no município de Cosmópolis do Senador
Vergueiro no interior de São Paulo. O senador contratou por falta de mão de
obra de escravos colonos nas diversas regiões da Alemanha, na Suiça e em
Portugal, adiantando a passagem, e a sustentação durante o primeiro ano, além
disso ofereceu um lote e uma moradia na fazenda, bem como as mudas de café. Com
as coletas dos anos seguintes a divida deveria ser liquidado da forma que 50 %
ficou com o dono da Fazenda e 50% com o colono. Teve trabalhadores que não se
adaptaram e a divida aumentou de ano em ano. O plantador foi obrigado se
abastecer na loja da fazenda, que não ofereceu sempre preços justos. Impedindo
de deixar a Fazenda e censurada a correspondência, os colonos se queixaram e se
consideraram escravos brancos, até um colono suíço, o professor de escola elementar
Thomas Davatz conseguiu informar a embaixada no Rio de Janeiro que transmitiu o
acontecimento para a Berna e Berlim.
Houve uma consulta formal ao governo brasileiro e os colonos puderam sair da
fazendo se quiseram. Porem é interessante que essa proibição não alterou a
atratividade de muitos alemães par escolher o Brasil como seu pais de destino.
Estatisticas elaboradas por historioadores com Karl Fouquet estimaram que no
decorrer do século XIX chegaram ca. de 300 000 imigrntes das regiões alemãs.
A
imigração para o estado de Paraná foi diferente a que para os dois estados do
sul, pois quando se formou o Estado de Paraná em 1853, os imigrantes de Rio
Negro já tinham se estabelecida e tinha nascida já a primeiro geração de
brasileiros-alemães. No livro do Pastor Wilhelm Fugmann “ Die Deutschen in
Paraná “, o ferreiro Michael Müller esta registrado que se casou com a Anna
Krantz em 1833 em Curitiba. A partir de 1836 se registra as famílias Krantz e
Ploetz e a partir de 1838 as famílias Pichete, Stresser. Porem se não pode
considerar essa vinda de alemães como uma típica imigração organizada como
houve para Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Uma boa parte dos primeiros
cidadãos alemães em Curitiba se mudou ou de Rio Negro ou de Joinville para a
cidade no planalto paranaense, devido as melhores condições de trabalho ou em
caso dos vindos de Joinville, fugindo do clima tropical e húmido que causou
naquela época doenças e até epidemias.
A
vinda de alemães para Paraná aumentou consideravelmente a partir dos anos de
1853, devido as melhores condições climáticas, a terra mais fértil do que no
nível do mar. O Pastor Fugman dividiu a imigração ao estado da seguinte forma:
1829
imigração para Rio Negro
1850
mudança de alemães de Dna. Francisco para Planalto
1877-79
imigração dos alemães do região Wolga na Russia
1908-1913
imigração direta ao interior do estado
A
partir de 1919 continuação da imigração direta,
No
inicio do século encontra-se alemães em municípios como Ponto Grossa, Lapa,
Palmeira e Iraty.
Passaria
o tempo dessa apresentação, se eu entrasse detalhadamente em todos os grupos
chamados alemães que chegaram no estado de Paraná, devido ao origem tão diferente.
A única caraterística que os uniu foi o
idioma alemã, porem as vezes expressados mais como dialeto. Os imigrantes da Volga
tanto como os Menonitas de Witmarsum se comunicam num dialeto que é
dificilmente a entender por um alemã que não é do norte. Os suebios do Danúbio
de Entre Rios perto de Guarapuava mantem até hoje um dialeto próprio que nem é
mais usado na Alemanha. Alias a forma mais particular é o dialeto dos pomeranos
no Brasil, imigrantes que vieram do extremo norte-leste da então Alemanha, uma
região que pertence desde a segunda guerra mundial a Polônia, devido isto o dialeto se perdeu, enquanto se manteve no
Brasil, onde e reconhecido pelo congresso como um idioma oficial de minorias.
Há imigrantes pomeranos na Santa Catarina, mais conhecido na cidade de
Pomerode, e há outros no interior de Espirito Santo, na cidade de Jetibá (
1859) onde eles vivem relativamente isolado de agricultura e plantação de café.
Imigrantes
diferentes chegaram no Brasil a partir dos anos de 1930, fugindo do estado
nazista, tanto alemães que se opunham do movimento, como descendentes judeus
que temiam ser perseguidas que posteriormente se tornou uma realidade
horrorosa, compraram terra no nordeste de Paraná e iniciaram uma nova vida como
fazendeiros de café e grãos, mais conhecido é até hoje o município de Rolândia
na região de Londrina.
Chegamos
a conclusão e mediante disto a analise:
o
que os imigrantes alemães vindos no século XIX e no inicio do século XX
trouxeram de benefícios para o Brasil? Antes da entrada das primeiras famílias
de alemães, a terra brasileira pertencia predominantemente a coroa e foi distribuída
a quem ofereceu serviço ou favores. Eram
certamente os portugueses ou os filhos deles nascidos já no Brasil. Dominavam
grandes lati fundias e utilizaram o serviço de escravos para mantê-las. Os colonos
vindos da Europa não conheceram este tipo de cultivar a terra, se fossem de
famílias de agricultores aprenderam já desde a infância de ajudar e trabalhar
na roça. Consequentemente logo após a chegada começaram desmatar e preparar a
terra disponível, para garantir a próprio sobrevivência. Tendo sucesso nessa
tarefa, iniciaram a venda dos seus próprios produtos. Os artesãos abasteceram
os com ferramentas, carroças e utensílios domésticos. Alguns entraram direto no
comercio de intermediar a compra e venda de produtos agrícolas e mantimentos
para os colonos. Muitas vezes as pequenas aldeias tornaram-se em pouco tempo
autárquico. A maioria dos colonos foi acompanhado de sacerdotes sejam católicos
ou luteranos, que prestaram até serviço de ensino, e isto foi a verdadeira
revolução no Brasil, o ensino fundamental dos filhos dos trabalhadores.
Até
as grandes guerras do século XX, nos quais o Brasil foi somente perifericamente
envolvido, a maioria das comunidades assentadas, principalmente no interior,
procurou se manter entre si, vivendo na cultura do pais paterno. Mesmo nas
grandes cidades como Porto Alegre, Curitiba e São Paulo, as comunidades de origem
alemã viveram entre si, em clubes, escolas, igrejas, restaurantes até o
comercio foi frequentado nos círculos de língua alemã. As pessoas que se
casaram com outras etnias foram vistos com reservas, pelo menos. A grande
mudança aconteceu com a politica da nacionalização a partir de 1938. As novas
leis atingiram primeiro as escolas, depois os clubes e igrejas e a partir de
1942 o uso do idioma alemã foi proibido, com a ameaça de ser preso e colocado
em campos de prisioneiros de guerra. Mesmo que a partir de 1945 e
principalmente a partir de 1950 as relações brasileiras e alemães se
normalizaram, a separação étnica que foi mantido em muitas regiões do sul do
pais por mais de 100 anos, hoje em dia não existe mais. Quem se beneficiou foi
o Brasil mesmo, pois os costumes e valores que os imigrantes trouxeram de seus
países e regiões europeus, foram absorvidos por muitas famílias brasileiras e
fazem hoje em dia parte da vida brasileira.